Freguesia
Santana do Mato

Pelo Progresso Social

Comentários recentes

    Categorias

    TEMPO

    História

    Descrição da freguesia

    De salientar a forma como se escreve Santa Ana do Mato – é uma povoação que remonta, não se sabe ao certo, ao século XIV. Pela carta do Padre Manuel de Matos da Silva, datada de 30 de Abril de 1758, a freguesia de Santa Ana do Mato possuía 98 fogos e 305 pessoas de comunhão e 58 menores; junto da igreja apenas se acolhiam 10 pessoas, mas pela freguesia havia moradas espalhadas pelas sesmarias.

    ​Era seu orago a gloriosa Santa Ana que, segundo a lenda, foi encontrada no meio do mato, daí a associação de palavras Santa Ana do Mato. O padre da freguesia era “capelão de curar”, tendo “de próprio” 4 moios de pão meados de centeio e 20 mil réis de rendimento uns anos por outros.

    ​Tinha juiz de vintena e escrivão da mesma. Colhia apenas centeio, tendo o campo coberto de mato. Servia-se do correio de Montemor-o-Novo. Passou a pertencer ao concelho de Coruche a partir do ano de 1490.

    ​É nos nossos dias uma povoação do concelho de Coruche, distrito de Santarém. Situada a 13 km de Coruche e 60 km de Évora é sede de freguesia com o mesmo nome desde 1985 (já havia sido sede de freguesia paroquial no séc. XV).

    ​É uma zona essencialmente ou quase totalmente agrícola, onde predominam culturas tais como: tomate, arroz, trigo, centeio, cevada, aveia, uva, produtos hortícolas, etc. Predomina como actividade mais produtiva nos meses quentes do ano a extração da cortiça (tirada de cortiça).

    Orago
    – Santa Ana

     
    Atividades económicas
    – Extração de lenha e cortiça, produção de carvão e agricultura diversa

    Festas e romarias
    – Festas em honra a Santa Ana (julho)

    Património cultural e edificado:
    – Igreja de Santa Ana
    – Fontanário
    – 
    Fontes de Pau e do Povo
    – Cruzeiro da Igreja

    Outros locais de interesse turístico
    – Sobreiro da Herdade da Afeiteira

    Gastronomia
    – Cozido à portuguesa

     
    Artesanato
    – Artigos em cortiça

    O Povoamento de Santana do Mato

    Falar do povoamento de Santana do Mato torna-se uma tarefa difícil pois pouco se tem escrito acerca deste assunto, e nem sempre é possível chegar à documentação que nos permita entender a origem da formação deste povoado. Julga-se que a povoação poderá remontar ao séc. XIV. De facto, nesse século, nomeadamente com a promulgação da Lei das Sesmarias em 28 de Maio de 1375 por D. Fernando I de Portugal, em Santarém, muitas das terras que se encontravam por povoar, totalmente cobertas de mato, passaram a ser povoadas e cultivadas.
    A Lei das Sesmarias foi uma medida tomada pelo monarca num intuito de fazer face à crise que o reino atravessava.
    Entre 1319-1324 deu-se a Guerra Civil, em 1340 ocorria a Batalha do Salado (pondo fim à última tentativa dos Mouros reconquistarem a Península Ibérica).
    De 1348 a 1349 foram anos marcados pela peste negra, mais tarde entre 1369- 1382 deram-se as Guerras Fernandinas e em 1383-85 as Guerras entre Portugal e Castela.
    Perante este cenário de crise, Portugal enfrentava vários problemas, muita gente morreu dizimada pela peste ou pelas guerras, pelo que se tornou necessário voltar a povoar as terras e a torna-las férteis acabando com a carência de cereal, de gado para a lavoura e de mão-de-obra.
    Possivelmente a povoação de Santana do Mato poderá ter surgido por consequência da Lei das Sesmarias, como aconteceu com outras povoações.
    A Vila Nova da Erra terá sido também um desses casos, em meados do séc. XIV era apenas um aglomerado urbano, passando a Vila no ano de 1375 (tendo D. Fernando feito mercê da Vila aos seus povoadores15) e em 1380 aparece como Concelho. Terá atingido o seu auge no séc. XVI, mas pouco depois começava a dar sinais de declínio.16 Segundo o “Estudo Histórico” sobre o Concelho de Coruche, de Margarida Ribeiro, o aforamento, o direito de sesmar e consequentes privilégios teriam atraído populações que viriam a fixar-se em Coruche e a formar pequenos agregados humanos.
    A riqueza e fertilidade das terras do Concelho de Coruche também contribuíram para atrair novas gentes. Primeiramente, estas terras foram repartidas em foros e sesmarias e assim se foram povoando e cultivando as zonas “maninhas”.
    Em 1758 o Secretário de Estado dos Negócios do Reino, Sebastião José de Carvalho e Melo, pedia aos párocos que apresentassem um inventário sobre as Paróquias e respetivas povoações. Deste deveria constar informação sobre a geografia, demografia, economia, administração e história local. É precisamente através da carta do padre Manuel de Matos da Silva, em resposta a este inquérito, datada de 30 de Abril de 1758 que ficamos a conhecer alguns dados sobre a povoação de Santana do Mato.
    À data relata-nos o padre Manuel que existiam 98 fogos com 305 pessoas de comunhão e 58 menores. Junto da igreja existiam apenas 10 moradores, no entanto espalhadas pelas sesmarias existiam outras moradias.
    A Sesmaria da Fonte de Pau terá dado origem ao primórdio povoamento de Santana do Mato. Desta sesmaria fazia parte uma propriedade com o mesmo nome que depois do seu aforamento18 (finais do séc. XIX) deu origem a um aglomerado que denominaram de Foros da Fonte de Pau, lugar esse que viria a ter um maior número de moradores após a construção da estrada de “Macadame”. No local onde existiam os Foros da Fonte de Pau, hoje tem lugar a povoação de Santana do Mato.
    A Fonte de Pau fazia estrema com as Herdades d`Afeiteira, Maria Cabeça e Tarrafeiro, e com as Sesmarias dos Poços, Redonda e Carregouceirinha. Eram seus proprietários António Matias e sua esposa Maria Antónia, que após ter ficado viúva voltou a casar, desta vez com Manuel dos Santos. Da sesmaria fazia parte um prédio de habitação, montado de sobro, terras para agricultura e charneca. Em 1901, dada a avançada idade da senhora e a pouca saúde da mesma, levou-a a doar os seus bens aos filhos que teve no primeiro casamento: José Matias casado com Maria Balbina, Sebastião Matias casado com Guilhermina Maria, Guilhermina Maria casada com Joaquim Eusébio e António Matias casado com Vicência Maria; do segundo casamento nasceu uma filha, mas faleceu. Esta doação tinha como condição: “ que a doadora, Antónia Maria deveria ter direito a usufruir, de uma casa de habitação, fornecida pelos donatários, a colher na sesmaria hortaliças, frutos, legumes e lenha suficientes para o seu consumo, a uma pessoa que a trate, a uma pensão alimentar de $ 500 diários pagos pelos donatários. Que em sua vida seja fornecida pelos donatários para habitação e logradouro de Maurícia Antónia e Manuel Luiz Fernandes, em remuneração de serviços que estes prestaram sem a exigência de salário”.
    Assim as terras foram repartidas em várias partes, uma quarta, denominada Barreirões, avaliada em 3000$000 ficou na posse de José Matias e sua esposa.
    Por fim as restantes parcelas ficaram, uma, na posse de Guilhermina Maria e seu esposo, Joaquim Eusébio, também avaliada em 3000$000, não sendo conhecidas desanexações. No ano de 1921 foi vendida a António José da Silva e a José Maria da Silva; e a outra – o Valle de Sant´anna (que hoje se domina Monte Alegre) passou a pertencer a Sebastião Matias e Quitéria Maria, esta parcela tinha cerca de 202 hectares de terra de semeadura e charneca. Estas duas últimas parcelas não foram aforadas, no entanto, por questões hereditárias foram feitas desanexações.
    O processo de aforamento da sesmaria só teve início em 1901, após a doação feita pela proprietária das terras, dona Antónia Maria, até então poucas eram as pessoas que povoavam estas terras que se encontravam, sobretudo cobertas por um imenso mato; por ali viam-se grandes rebanhos de cabras que eram o único animal que comia o mato e assim ajudavam a desbravar os terrenos. Também existia uma grande área de montado, todavia a cortiça não tinha a importância que tem hoje em dia, chegou mesmo a ser usada na construção de habitações. Muitos destes sobreiros nem sequer eram descortiçados, as habitações por sua vez eram pequenas casas construídas também em adobo e erguidas por qualquer pessoa. Apesar do processo de povoamento ter sido lento, no séc. XVIII Santana do Mato era uma das povoações com maior densidade populacional, vindo a aumentar a partir do aforamento, senão vejamos:
    Coruche – 2851 habitantes
    Couço – 656 Habitantes
    Vila Nova da Erra – 598 Habitantes
    Santana do Mato – 305 Habitantes
    Nossa Senhora do Peso – 300 Habitantes
    São Torcato – 271 Habitantes
    Santa Justa – 270 Habitantes
    São Romão – 40 Habitantes
    Os primeiros povoadores vieram sobretudo das aldeias mais próximas, no entanto, a partir do séc. XX começaram a vir para Santana gentes de Mora e também de Montemor tornando-se proprietários das herdades que ainda hoje conhecemos.
    Santana do Mato, detentora de um grande número de herdades, começou a gerar riqueza atraindo para si aqueles que procuravam nestas terras o seu ganha-pão. No livro da Misericórdia, assim como no livro das Rendas e no Translado do livro do Tombo das Confrarias aparecem citadas no séc. XVII e XVIII, as Herdades de Verdugos de Cima e Verdugos do Meio.
    Destas observações podemos entender que o povoamento da localidade que conhecemos hoje por Santana do Mato foi feito numa primeira fase junto da igreja e consequência do aforamento da Sesmaria da Fonte de Pau, levou a que os povoadores se afastassem desse local e se fixassem na referida propriedade, facto que possivelmente terá levado ao desaparecimento das moradias junto da igreja. Não nos esqueçamos que desde sempre os locais junto às vias de comunicação (estradas, caminhos, rios etc.) foram preferenciais para a fixação das populações.

    A Paróquia

    A Paróquia é uma subdivisão territorial de uma diocese, pode surgir também como sinónimo de freguesia. A Paróquia de Santana do Mato pertence à Diocese de Évora, Arcebispado de Coruche. Inicialmente estava anexa à de São João Baptista de Coruche.
    Em cada Paróquia deveria existir uma Junta de Paróquia. Segundo alguns documentos, as Juntas de Paróquia foram criadas pelo Governo Provisório no ano de 1830. Os indivíduos que constituíam a junta eram eleitos pelos chefes de família ou cabeças de casal da localidade, os mandatos eram bienais podendo os regedores serem reeleitos. A sede de trabalhos era a própria sacristia ou parte dela, que servia também de sala de reuniões. Da junta fazia parte um secretário que era o escrivão do regedor e um tesoureiro. A Junta de Paróquia era, por assim dizer, a unidade de administração pública mais pequena. Em 1832 pelo decreto nº 23 de 16 de Março, as juntas passam a ser consideradas agregados sociais e religiosos. Tinham como principais funções a administração da igreja e dos bens paroquiais (móveis e imóveis), nesta altura o regedor era apenas um delegado do administrador do Concelho. Com o novo código administrativo criado em 1840 o pároco surge como presidente da Junta de Paróquia (ao longo dos anos esta condição foi alterada várias vezes, voltando a ser aplicada). Mais tarde, em 1896, surge um novo regulamento administrativo que veio dar à Junta de Paróquia o poder de fazer posturas e regulamentos, no entanto teria sempre que ter a aprovação do governador civil e apesar de estar dependente do poder central não estava subordinada às câmaras municipais, o que lhe permitia poder tomar as suas próprias iniciativas.
    No ano de 1913 com a Lei nº 88 de 7 de Agosto criaram-se as Paróquias Civis que passam a ter funções de carácter civil: a nível da saúde, ensino, registo de casamentos, nascimentos ou óbitos, etc. O regedor estava encarregue da vigilância sanitária, da assistência às crianças desemparadas, mantinha a ordem prendendo ladrões, desertores e criminosos quando apanhados em flagrante delito, tinha também competência para julgar em questões civis de pequena importância.
    No caso concreto de Santana do Mato, a Junta de Paróquia tinha grande importância pois detinha funções administrativas onde o presidente seria o pároco. Todas as ocorrências passavam pelo conhecimento da junta que tinha competências deliberativas.
    O pároco era “capelão de curar”, recebia de rendimento 20 mil reis de uns anos para os outros e colhia 4 moios de pão meados de centeio. Colhia apenas centeio pois o campo encontrava-se coberto de mato, e servia-se do correio de Montemor-o-Novo. Tinha juiz de vintena e escrivão da mesma. O escrivão seria o equivalente nos nossos dias a um funcionário do registo civil. «A mitra apresentava o capelão, curado que tinha 120$000 reis». Santana do Mato era capelania da apresentação ad nutum do arcebispo, no termo da vila de Coruche, ou seja o Bispo nomeava o capelão diretamente para cuidar da comunidade de fiéis, não dependia por exemplo, do pároco de Coruche.
    No séc. XV (1490) Santana passou a pertencer ao Concelho de Coruche e era sede de freguesia paroquial. Segundo os livros dos registos paroquiais, em Santana do Mato, entre os anos de 1857 a 1910 realizaram-se cerca de 1460 batizados, de 1853 a 1910 celebraram-se 250 casamentos e registaram-se 720 óbitos. Chamamos a atenção para o facto destes números em determinados anos serem relativos também a São Torcato, uma vez que a Paróquia esteve anexa à de Santana.